D. Pedro IV

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domingo, abril 13, 2008

PIRATARIA NO AR

Às 9H15 do dia 10 de Novembro de 1961, (sexta-feira),véspera de eleições gerais em Portugal, o Super-Constellation da TAP, Mouzinho de Albuquerque, pilotado pelo comandante José Marcelino e pelo co-piloto Raul Teles Grilo, levanta à hora marcada do Aeroporto de Casablanca, em Marrocos. Meia hora depois de terem levantado, o mecânico de aviões, Hermínio da Palma Inácio, invadiu a cabine de pilotagem e apontou um revólver à cabeça do comandante, dizendo que se tratava de uma acção revolucionária e não queria fazer mal a ninguém. Exigiu seguir na rota para Lisboa, simular a aterragem na Portela e voltar para trás, em voo rasante sobre a capital, Barreiro, Setúbal, Beja e Faro, para lançarem 100 mil panfletos em que apelam à revolta popular contra a ditadura. Regressariam depois a Tânger onde Palma Inácio e os companheiros esperavam asilo político.

Perante a resposta do comandante de que não tinham combustível suficiente para regressar a Tânger, Palma Inácio exigiu os registos de voo do Super-Constellation e verificou que os depósitos estavam cheios. Explicou, de seguida, que para o lançamento dos panfletos deveriam voar o mais baixo possível, despressurizar as cabines e abrir as janelas de emergência.
Já perto de Lisboa, o comandante contactou a torre de controlo, e recebeu autorização para aterrar na pista 05. Fez a aproximação, mas, no último momento, acelerou os quatro motores a hélice: o avião fez-se à pista, mas voltou a subir e afastou-se do aeroporto.
O comandante entrou de novo em contacto com a torre de controlo, informando que fora obrigado a fazer um voo rasante sobre Lisboa e outras cidades do sul.
A comunicação foi interrompida pela voz do general da Força Aérea, Costa Macedo, que pilotava um monomotor, e que, percebendo o que estava a acontecer, deu o alerta. Alguns minutos depois, dois caças F-84 levantaramm voo da Base de Monte Real, com ordens para abaterem o avião da TAP se não conseguissem obrigá-lo a aterrar em solo português.
Iniciou-se então uma perigosa corrida. O Super-Constellation teria de voar baixo, a apenas cerca de 100 metros de altura, para fugir aos radares e despistar os caças.
Os seis revolucionários levavam consigo 100 mil panfletos. O avião passou a rasar a estátua do Marquês de Pombal, sobrevoou a Baixa, guinou sob Alcântara. Sobre Lisboa, o Barreiro, Setúbal, Beja e Faro caiu uma chuva de papéis atirados pelas janelas do avião.
Porém, ao sobrevoar a baixa altitude o mar do Algarve, os pilotos avistaram dois navios de guerra. Só havia uma maneira de fugir à artilharia: mergulhar até meia dúzia de metros da linha água e passar por entre os dois navios.Foi isso mesmo que fez o comandante José Marcelino.
Às 12H50 desse mesmo dia, o Super-Constellation aterrou no Aeroporto de Tânger, em Marrocos. Todos brindaram ao êxito da operação com o champanhe que havia a bordo.
A aventura tinha corrido bem. Os outros cinco revolucionários nem sequer foram obrigados a levantar a voz e a mostrar as armas e o comissário de bordo Orloff Esteves e as duas assistentes, Maria del Pilar e Luísa Infante, ajudaram a lançar os panfletos. Dos 13 passageiros que seguiam a bordo, - americanos, espanhóis, belgas e dois portugueses – apenas alguns se aperceberam que o avião fora tomado de assalto: só o ficaram a saber depois da aterragem em Tânger.
A operação mereceu honras da Imprensa internacional – era o que os revolucionários pretendiam. Salazar espumou de raiva.

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