D. Pedro IV

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domingo, novembro 20, 2005

O rio do esquecimento



A lenda do rio Lima é referida por autores clássicos como Tito Lívio, Suetónio e Estrabão, que lhe chamavam Límia, o "rio do esquecimento". Alguns identificam-no, até, com o rio Lethes, um rio lendário que corria nos infernos, e cuja água apagava a memória de quem o atravessasse. Esta lenda terá sido propagada pelos Calaicos, povo que habitava as terras de Entre Douro e Minho, ou seja, a zona sul da antiga Calécia. Para este povo, todos os rios eram sagrados e habitados por divindades ou génios e não deviam ser transpostos sem que previamente se lhes pedisse autorização e se lhes prestasse homenagem. Não se sabe se os Calaicos acreditavam ou não no esquecimento; no entanto, atravessavam muitas vezes o rio, pelo que é de crer que criaram ou usaram a lenda como elemento dissuasor ou julgavam que o ritual da travessia, fosse ele qual fosse, os tornava imunes. A primeira travessia do Lima pelas legiões romanas ocorreu no ano de 135 a. C., sob o comando do cônsul Décimo Júnio Bruto.

" ...A pouca distância da foz, o exército romano estava parado, em formatura, virado para o rio. O silêncio reinava também naquela margem, mas era um silêncio ameaçador, um prenúncio de motim. (...). Crescera gradualmente à medida que se aproximavam do Límia e que se espalhava entre eles a superstição semeada pelos prisioneiros calaicos (...). A decisão devia ser tomada já. Em poucos momentos, a recusa transformar-se-ia em revolta (...).
Bruto endireitou o corpo. Acicatou o cavalo e conduziu-o até junto do signífero. Com um gesto brusco, arrancou-lhe das mãos a insígnia e dirigiu-se para o rio. Silêncio, silêncio mortal. Só o chapinhar das patas do cavalo quando feriram a água. Não se apressou, deixou que os homens sofressem a expectativa. Estava a meio do rio, vencera três quartos de distância, estava na margem direita do Límia.
Forçou o cavalo a dar meia volta, para encarar as legiões. Então, tomou um largo fôlego e ergueu a voz, treinada para se fazer ouvir no campo de batalha. Não fez um discurso. Simplesmente, começou a chamar os comandantes dos manípulos pelos seus nomes - tinha todos os nomes na memória, era um bom general.
No outro lado, os homens ouviram-no. Bruto não precisou de terminar a chamada; muito antes disso, uma formidável aclamação abafou a sua voz. As trompas soaram dando ordem de marchar.
Os Romanos atravessavam o rio."

AGUIAR, João, Uma deusa na bruma, Lisboa, Edições ASA, 2003

2 comentários:

Anónimo disse...

Diogo Bernardes (1520-1605)
Esteve com D. Sebastião em Álcácer Quibir(1578) e ficou prisioneiro.

Fala assim do Lima:

Alguns Poemas

(...)

Meu pátrio Lima, saudoso e brando,
Como não sentirá quem Amor sente,
Que partes deste vale descontente,
Donde também me parte suspirando?

Se tu, que livre vás, vás murmurando,
Que farei eu, cativo, estando ausente?
Onde descansarei de dor presente,
Que tu descansarás no mar entrando?

Se te não queres consolar comigo,
Ou pede ao Céu que nossa dor nos cure,
Ou que trespasse em mim tua tristeza:

Eu só por ambos chore, eu só murmure,
Que d'um fado cruel o curso sigo,
Não tu, que segues tua natureza.


(...)

Anónimo disse...

Estes Romanos são loucos...
que fazem inspirar sentimentos tão tristes e "esquecidos".Será que se formos dar uma volta no rio nos esqueceremos das ofensas da Ministra??? Cá por mim penso que devemos tentar tudo...