D. Pedro IV

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domingo, novembro 13, 2005

O Pincel


Os longos meses passados a bordo de caravelas e naus eram penosos. Sujeitos às tempestades ou às quentes calmarias, os marinheiros amontoavam-se no convés, pois os camarotes, em número reduzido, destinavam-se aos tripulantes mais importantes (capitão, pilotos, contramestres) e aos passageiros de mais elevada condição social. Não havendo instalações sanitárias a bordo, como também não as havia em terra, as necessidades eram feitas, tudo leva a crer, da borda do navio para o mar, após o que os marinheiros se limpavam a um trapo atado a um pau - o pincel.
O pincel estava sempre mergulhado no mar; se algum marinheiro menos afortunado caía às águas, "agarrar-se ao pincel" era a única saída possível, que devia ser encarada com alguma (compreensível) relutância. Será por isso que um pincel é, ainda hoje em dia, uma tarefa em que ninguém quer pegar?
Nas caravelas e naus portuguesas também podíamos encontrar um objecto que já era habitual em muitas casas: o bacio, ou camareiro, como também se dizia. Não é possível determinar-se desde quando seria feito esse uso, mas há conhecimento de Vasco da Gama os ter levado a bordo, na primeira viagem à Índia, pois em Melinde ofereceu três bacios ao Rei.

MENEZES, José de Vasconcellos e, Armadas portuguesas - apoio sanitário na época dos Descobrimentos, Lisboa, Academia da Marinha, 1987.

2 comentários:

Espada Xim disse...

Fantástico! Queremos mais!

Espada Xim disse...

Porque fiquei a pensar no pincel, aqui fica um complemento:

"Não havia a bordo qualquer espaço reservado à higiene. Os homens faziam as suas necessidades num balde, que depois penduravam borda fora para que as ondas se encarregassem da limpeza geral.
Também não existia nada que se parecesse com o papel higiénico. Para os mesmos fins utilizava-se um cabo (corda), que ia sempre suspenso e com a ponta desfiada dentro de água. Quem precisasse, puxava esse tipo de pincel encharcado, resolvia o problema e repunha-o no seu lugar".

Magalhães, Ana Maria, Alçada, Isabel, A Caravela, Na Crista da Onda, nº 9, Lisboa,CNCDP, Maio de 1996