D. Pedro IV

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terça-feira, novembro 22, 2005

À Descoberta da Sardinha Assada no Séc. XVIII...


"(...) Uma fumarada gordurosa, com mau cheiro, densa, vai saindo lentamente de uma porta, vai saindo até tapar a vista de uma parte do edifício em frente do qual se enovela e se espalha.
Defronte, um grupo numeroso de pessoas de ambos os sexos atravanca a passagem em grande agitação e movimento: ouve-se gritos, que aqui e além se cruzam.
Todo este espectáculo me leva a crer tratar-se de um incêndio. Aproximo-me, furo por entre a multidão, e depara-se-me um fogareiro, uma grelha, uma chaminé, um homem enfarruscado e oleoso, ajudado por uma mulher suja e de aspecto repelente. Ali se frita e assa sardinhas, enquanto aquele amontoado de pessoas espera que elas estejam prontas para cada uma levar o quinhão que pretende.
E a isto se chama Lojas de Frigideiros. São abarracamentos ambulantes que se encontram espalhados por toda a Lisboa, nas ruas, nas praças, nas portadas, principalmente à portas das tabernas. (...)
Estas vendas constituem um grande recurso e comodidade para o povo, que ali encontra prontos e por um preço mínimo o almoço, o jantar e a ceia. Cada indivíduo, munido já do seu pão, compra cinco ou seis sardinhas fritas ou assadas pelo preço de um soldo, ou dezoito dinheiros, e ali mesmo come, ficando jantado. Se dispõe de mais algum dinheiro, pede um copo de vinho na taberna e fica satisfeito. (...)
Mas se para o povo estes estabelecimentos constituem uma grande comodidade, a sua multiplicação, para os que têm a desgraça de lhes serem vizinhos, tem muitos inconvenientes; incomodados como são pelo fumo, pelo cheiro, três vezes por dia aturdidos com o barulho ensurdecedor da multidão que os procura. (...)
Tais lojas tornam-se assim o terror dos inquilinos das casas suas vizinhas, e por isso todos evitam habitar nos sítios onde elas estão instaladas. A precaução, porém, é inútil. A Loja do Frigideiro, que é ambulante e desmontável, muda de lugar num instante, e logo vais estabelecer-se numa portada ou debaixo de uma janela, em sítio onde antes nunca existira estabelecimento semelhante. (...)"
Carrére, J.B.F., Panorama de Lisboa no ano de 1796, Lisboa, Biblioteca Nacional, 1989

4 comentários:

Anónimo disse...

Já vi, sou do povo. Gosto mesmo de sardinhas! Só não sei se sou do século XVIII.

Sação disse...

Assim compreende-se melhor a transferência da Feira Popular para paragens mais arejadas...

Anónimo disse...

Eu sou do século XX e a única coisa que acho que falta neste post é a salada de tomate e pimentos!...Deliciosos..todos...post, sardinhas e salada...

Maria Lisboa disse...

Uns amigos alemães, fervorosos adeptos da sardinha assada portuguesa, viram no supermercado "lá da terra" umas sardinhitas, à venda. Todos felizes, compraram-nas e fizeram uma sardinhadazita no exterior do casa onde vivem.
Contaram, mais tarde que as sardinhas souberam-lhes divinamente!!! ... mas foram "insultados" por todos os vizinhos num raio de 2 Km
- o cheiro!!!

... mas são tão boas, não são? ... apesar do cheiro!

:))))