Viver em Lisboa nos anos 60, ao lado do Hospital da Marinha, que é como quem diz ao lado da Feira da Ladra, deixa muitas memórias, ou deixa muitas histórias...
O pequeno almoço tinha sempre pão fresco (curiosamente quente), acabado de cozer. À noite deixava-se o saco de pano pendurado na porta do prédio, com um bilhete a dizer: "Sr. Vicente, são doze papo-secos". E de madrugada lá vinha o Vicente, de cesto fundo de verga, aos ombros, abastecer de papo-secos (carcaças) os dorminhocos esfomeados.
Quanto ao leite, o procedimento era semelhante: à noite ficava a garrafa (ou garrafas) de vidro, vazia, à porta. De manhã estava lá uma cheia, com uma tampinha fininha de folha metálica, fácil de retirar.
Pagava-se à semana, ou ao mês, creio eu!
Nos arredores de Lisboa, as coisas eram diferentes...
Para o leite, nada como ir directamente à vacaria, aqui ,onde não digo, era a Vacaria do Canas... Vasilha na mão, passeio nos pés, e lá íamos nós comprar o leitinho para de manhã beber.
Depois era chegar a casa e fervê-lo, para matar a bicharada...
E mais não digo que tenho leite ao lume e... pode entornar-se!
1 comentário:
Tantas profissões que já desapareceram! Na minha cidade havia até recolha de restos de comida ao domicílio, utilizados para alimentar galinhas e porcos: os "desperdícios", que se guardavam numa lata e eram recolhidos todas as noites, por um homem com um burro. E havia também uma carroça que recolhia só os restos de verduras e cascas de legumes, para os coelhos. Primórdios da reciclagem numa pequena cidade de província...
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