A LISBOA QUINHENTISTA
John Travis, mercador inglês de tecidos, estava de
visita à cidade de Lisboa, onde procurava novos clientes para o seu negócio.
Sempre adorara esta velha cidade, protegida pela Cerca Moura e cheia de
vestígios de antigos povos que por cá passaram. Todos os dias de manhã, John
percorria a pé as ruelas estreitas de Lisboa, onde o casario se aglomerava à
volta do castelo. Mas, o que ele mais admirava era o enorme Terreiro do Paço,
praça nobre da cidade, à volta da qual se encontravam os mais importantes
serviços de comércio e de apoio à navegação marítima. Era aí, no Paço da
Ribeira, que o rei D. Manuel I vivia e todos os dias era possível vê-lo, de uma
janela, a olhar o porto e a assistir deliciado à confusão da partida e largada
das naus e ao descarregar das mercadorias. Muitos nobres procuravam imitar o
rei, construindo palácios novos junto a esta zona ribeirinha.
O espectáculo do porto de Lisboa era magnífico e
quase parecia que o mundo entrava pela porta a dentro: eram as coisas da China,
as especiarias da Índia, o marfim de África e o pau do Brasil, sem esquecer os
tecidos de Inglaterra ou os vidros de Itália. O número de navios era sempre
enorme, descarregando mercadorias que entravam na Casa da Índia e na Alfândega
Nova, de onde partiam para a feitoria portuguesa da Flandres, para daí serem distribuídas
por todo o Norte e Centro da Europa. Próxima do porto, a Rua Nova dos
Mercadores era o local favorito de John, não só pelo enorme movimento que tinha
de gentes e produtos, como pela beleza que apresentava. Era calcetada e as
janelas das casas tinham persianas com tabuinhas. Com casas de 3 e 4 andares, o
que mais chamava a atenção eram as lojas cheias de pratos, de tecidos, de
espelhos e de pérolas. Era a rua dos banqueiros, do comércio e dos mercadores.
De volta ao porto, John passava horas a ver os
navios a serem abastecidos com água, biscoito, carne salgada e peixe seco antes
da largada. Na hora da partida, os familiares aproximavam-se da água, acenavam
com os seus lenços, os mesmos com os quais enxugavam as lágrimas de saudade
pelos que partiam. Alguns homens de idade gritavam assustados, vendo na
aventura dos descobrimentos uma obra do Diabo. Às vezes, D. Manuel I vinha ao
porto acompanhar o movimento dos navios e controlar a entrada de riqueza no
país. Soldados guardavam toda esta operação, impedindo tentativas de roubo ou
fugas à última hora de marinheiros amedrontados.
Parecia que toda a Lisboa saia à rua e aplaudia
com entusiasmo a coragem dos nossos homens. Os padres benziam as naus e
abençoavam os bravos aventureiros, as crianças admiravam as cores e os objectos
que circulavam pelo porto e os jovens divertiam-se a conhecer gentes novas.
Parecia uma peça de teatro que tinha como palco a cidade de Lisboa e como
atores os marinheiros, os soldados e os comandantes que partiam à aventura.
Chegou a hora do adeus. Para uma qualquer nau e
para John, já que no dia seguinte partiria de regresso à sua terra, levando na
memória a bela imagem de Lisboa.
Ricardo Bessa 5ºC nº 23
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